O Cérebro do Transtorno Bipolar

Sabe-se que a herdabilidade do Transtorno Bipolar é de cerca de 90%, a maior dentre todos os transtornos mentais. Isso quer dizer que, se você tem o TB, ele é explicado em 90% pelos seus genes e 10% pelo ambiente.

Sendo assim, é esperado que ele possua uma base biológica muito grande e, de fato, isso é verdade.

Quando se compara o funcionamento cerebral de pessoas com TB e sem TB, os pacientes com TB apresentam disfunções em regiões como o córtex pré-frontal, circuitos entre amígdala e hipocampo (responsáveis pela regulação e o processamento das emoções), e a ativação excessiva de áreas ventro-estriatal e órbito-frontais (relacionadas ao processamento de recompensas).

Essas características, por sua vez, culminam na labilidade e desregulação emocional e no aumento da sensibilidade a recompensa, tão característicos do TB.

A diminuição de volume na substância cinzenta dos córtices pré-frontal e temporal, na amídala e no hipocampo, além de alterações na condutividade da substância branca em circuitos que conectam regiões pré-frontais com regiões subcorticais, podem servir de base estrutural para explicar as alterações no funcionamento cerebral de pacientes com TB.

Mania ou Hipomania?

Dizem que existem dois polos no Transtorno Bipolar (TB) e, de fato, existem. Porém, muitas pessoas definem os polos a partir de emoções como felicidade e tristeza.

Digo desde já que isso é um erro.

Uma forma mais adequada seria interpretar os polos em termos de energia ou ativação. Sendo assim, um polo teria menos energia, enquanto o outro teria mais.

Aqui, vamos falar apenas do polo que apresenta mais energia, o da mania e hipomania.

Para começar, devo dizer que, quando falamos em mania no TB, não estamos falando na mesma “mania” do senso comum, como “mania de limpeza”, por exemplo. Mas, estamos falando de um estado de humor elevado, expansivo ou irritável, que contempla três ou mais dos seguintes sintomas:

✅ Aumento da autoestima ou crenças de grandiosidade;
✅ Redução da necessidade de sono (diferente de insônia);
✅ Aumento da fala ou necessidade de estar falando;
✅ Sensação de pensamentos acelerados que pode ser acompanhada de fuga de ideias;
✅ Maiores níveis de distração;
✅ Aumento da atividade dirigida para objetivos, seja no aprendizado, trabalho, sexo, relações sociais, ou agitação psicomotora;
✅ Envolvimento em atividades com risco em potencial, como indiscrições sexuais e gastos excessivos.

Ok. Mas e a hipomania? “Hipo” significa menos, menor ou inferior. Então, “Hipo” + “mania” significa uma mania “menor”, ou menos grave.

Para diferenciar a gravidade, o clínico precisa avaliar se o humor expansivo gera prejuízos significativos na vida do indivíduo (p.e. financeiros), se existem sintomas psicóticos ou necessidade de hospitalização. Se sim, então estamos falando de mania.

Além disso, a mania deve ocorrer com duração mínima de uma semana, enquanto que a hipomania deve ocorrer por quatro dias consecutivos.

Ficou claro? Na dúvida, deixe um comentário

O transtorno Bipolar não é passageiro.

Sim, ele não é passageiro, ele não tem cura e ele vai te acompanhar para o resto da vida.

“E se eu não me cuidar?”

Se você não se cuidar, os sintomas se agravam com o tempo e isso pode acarretar vários prejuízos no cérebro, no corpo e nas funções cognitivas, como problemas na tomada de decisão, memória, atenção, planejamento e flexibilidade cognitiva.

Porém, o Transtorno Bipolar é estudado há muito tempo e já se sabe como tratá-lo.

Uma pessoa com o Transtorno e que se cuida, seguindo o tratamento padrão, segundo as pesquisas, tende a demonstrar menos flutuações de humor, apresenta menos gravidade de sintomas, menos internações, menor risco de suicídio, menos conflitos de relacionamento e menos problemas de saúde física, cerebral e cognitiva.

Por isso, se cuide. Se informe e informe as pessoas que te amam. A informação sempre será sua melhor ferramenta de autocuidado.

Na dúvida, busque ajuda profissional. Você não precisa passar por tudo isso sozinho(a).

A história do Transtorno Bipolar

Apesar parecer algo novo, o Transtorno Bipolar (TB) começou a ser relatado desde o final do século I (a.C.) por Areteus da Capadócia. Na época, Areteus descrevia diversos indivíduos em um estado muito semelhante ao que chamamos hoje de mania. Mas, além disso, foi o primeiro a associar a mania com a depressão (melancolia) e descrever como indivíduos alternavam entre esses dois episódios ao longo da vida.

Já na metade do século XIX, dois psiquiatras franceses, Jules Falret (1794-1870) e J.F. Baillarger (1809-1890) formularam as primeiras ideias explícitas acerca do TB. Ambos defendiam a ideia de que mania e depressão representariam diferentes episódios de uma mesma patologia e não eram adeptos da ideia de que cada sintoma representaria uma nova doença ou um caso de “psicose única”

Falret em 1851 e Baillarger em 1853, então, chegaram a descrever basicamente a mesma doença, chamada de loucura circular por Falret e de loucura de dupla forma por Baillarger.

Finalmente, em 1899, Emil Kraepelin descreveu a Psicose Maníaco-Depressiva (PMD), uma das descrições mais precisas e semelhantes com aquilo que chamamos de Transtorno Bipolar. O autor analisou os estados de transição das crises de manias e malancólicas, além dos estados mistos. Ele também separou a PMD da esquizofrenia (conhecida como demência precoce, na época).

De lá para cá, a principal diferença da PMB dos modelos atuais de compreensão do TB se encontra na separação feita por Jules Angst (na Suiça) e Carlo Perris (na Suécia) que publicaram trabalham independentes, os quais indicavam pacientes sofriam apenas de depressão, hoje conhecida como depressão unipolar (depressão maior ou distimia).

Além disso, o conceito original de PMD sofreu outras subdivisões por meio de estados menos graves de sua manifestação, diferenciando o Transtorno Bipolar entre tipo 1, 2 e ainda a ciclotimia.